Espaço para pesquisa, consultas e trocas de experiências próprias da comunicação com Surdos.
quinta-feira, 29 de abril de 2010
LIBRAS TÁTIL - A LIBRAS USADA PELA COMUNIDADE SURDOCEGA
Carlos Jorge Wildhagen Rodrigues
Diretor Geral da ABRASC, este carioca surdo-cego luta pela comunidade, além de ser um apaixonado por esportes, especialmente pelo mar.
Carlos Jorge Wildhagen RodrIGues, 45 anos, surdo-cego pós-lingüístico, diretor geral da Associação Brasileira de Surdo-cegos (ABRASC), diretor de esportes e lazer e conselheiro gestor do Grupo Brasil é um apaixonado por esportes e, especialmente, pelo mar. Alia as suas atividades esportivas com as profissionais. Seu objetivo principal é divulgar para a sociedade todas as questões da surdo-cegueira, necessidades, anseios e possibilidades. E, com sua conduta de vida, mostra a todos que não há limites para o ser humano. Basta lutar pelos seus sonhos.
RodrIGues nasceu surdo e com síndrome de Usher, doença genética que causa cegueira com o passar dos anos. Mas foi apenas com dez anos de idade que percebeu que tinha dificuldades para enxergar perfeitamente. Portador de retinose pIGmentar, atualmente tem pequeno resíduo visual no olho direito.
Durante a infância e adolescência, cursou escolas que privilegiavam a oralidade, mas antes disso, no primeiro grau, conviveu com outros surdos e adquiriu a Língua de Sinais,o que permitiu oacesso a informações com auxílio do guia-intérprete. Após terminar o ensino médio, tentou o vestibular da Fundação Cesgranrio sonhando em cursar Engenharia Civil ou Matemática, mas por duas vezes não obteve sucesso, com dificuldades na Língua Portuguesa. Os vestibulares de conceituadas instituições já difíceis por excelência, tornam-se ainda piores para os surdos. Entretanto, obteve ótimas avaliações em matemática e física.
Acabou desistindo dos cursos superiores e partiu para o trabalho. Tentou a área técnica e conseguiu emprego graças ao apoio de um tio, radialista de futebol e amIGo do presidente do Fluminense, na área de informática do clube. Foi dIGitador por onze anos tendo que se aposentar devido à cegueira. Naquela época tinha 34 anos.
Foi um período muito doloroso, fruto de um processo desgastante até que se deslIGasse da empresa. Por um ano e meio ficou jogado no setor, sentindo-se improdutivo, já que ninguém lhe dava serviço, devido aos seguidos erros cometidos, conseqüência do seu problema visual que piorava ano a ano, principalmente em lugares sem claridade. Finalizado o deslIGamento não conseguia mais colocação profissional alguma, fruto do preconceito e do desconhecimento dos empresários.
Em 1993, uma amIGa, intérprete de Libras e psicóloga, que acompanhava sua situação, levou-o ao Instituto Benjamin Constant (IBC), onde uma nova vida lhe esperava. Lá aprendeu braile, massoterapia, orientação e mobilidade, informática no computador confIGurado com letras ampliadas em fundo preto. Tudo isso proporcionou a RodrIGues uma autonomia, que lhe permitia ir aonde desejasse. E lá também reencontrou o gosto pela prática esportiva.
Sua vida no esporte é exemplo de superação. Aprendeu a nadar sozinho aos 15 anos numa piscina do América Football Club, onde é atualmente sócio proprietário. Desde então, no mesmo clube, praticava sempre sonhando em participar de campeonatos de natação para surdos.
Sua história no mergulho também é antIGa. Nos anos 70, desde que viu o filme "Jaws" (Tubarão), começou a praticar os esportes marítimos como mergulho, caça, vela, etc. Quando era jovem, foi duas vezes convidado pelo tio a ir a Búzios, no litoral do Rio de Janeiro. Foi a primeira vez que apreendeu a mergulhar a menos de 2 metros de profundidade usando só máscara, snorkel e nadadeiras.
Foi no IBC que teve a oportunidade de voltar a nadar e participar de vários campeonatos. Tornou-se um grande vencedor amealhando 26 medalhas em piscinas e travessias em mar aberto. Era o único nadador surdo-cego entre cegos. Em 94 teve seu batismo como mergulhador com a professora Lúcia Sodré na piscina do IBC. Abraçou o mergulho definitivamente em 97. Tornou-se parte de um projeto desenvolvido por Lúcia, de mergulho adaptado. Foi o primeiro mergulhador surdo-cego da América Latina e o segundo do mundo, segundo a HSA (Associação Internacional do Mergulho Adaptado) com sede na Califórnia, EUA.
Com isso, teve a oportunidade de ir a vários lugares do litoral do Rio de Janeiro como, Búzios, Arraial do Cabo, Maricás, Rio, Angra, Ilha Grande, Parati, entre outros. E pôde conhecer a vida marinha. Tocar e sentir a fauna e flora, o baiacu, o ouriço e a estrela-do-mar, esponja, corais, etc. Conheceu navios naufragados de séculos passados. Emoção pura.
Hoje é assistente de instrutor do curso de mergulho adaptado, participando da orientação nos sinais que devem ser passados aos mergulhadores, permitindo-se ser útil às pessoas e fazendo o que lhe dá prazer. Carlos Jorge quer que os surdo-cegos pratiquem esportes. Natação, atletismo, passeios de bicicleta, mergulho, trilhas.
Atuou como voluntário no IBC, junto à professora Margarida Monteiro, atual coordenadora do Programa de Atendimento e Apoio ao Surdocego desta escola, ajudando a ensinar o Braile, a LIBRAS e a informática aos surdo-cegos que freqüentam a instituição. Como membro da Sense Internacional, faz parte de um plano de ação para localizar e promover o surdo-cego a inserir-se no mercado de trabalho e combater a exclusão e a discriminação.
Neste momento, aqui em SP, trabalha na sede central da ABRASC. Também pratica no curso de panificação e confeitaria da Associação Educacional para Múltipla Deficiência (AHIMSA). Atua como empreendedor e divulga a existência da surdo-cegueira nas universidades, escolas, comunidades e IGrejas.
Nas suas andanças pelos seminários e congressos conheceu muita gente e fez muitas amizades. Dentre elas, uma pessoa muito especial, Cláudia Sofia (em julho de 97), também surda-cega, atual presidente do Conselho Deliberativo da ABRASC. Casaram-se na Paróquia Nossa Senhora do Rosário de Fátima, em Sumaré, no dia 21 de maio deste ano, em cerimônia carregada de emoção. Um casamento absolutamente histórico, pois é o primeiro casal de surdo-cegos da América Latina.
Moram juntos num apartamento em Vila Mariana, bem perto do local do trabalho e mostram que é possível enfrentar desafios e superar obstáculos. Suas experiências são grandes demais, demonstrando um misto de capacidade, persistência e amor mútuo.
Em março passado, fez a primeira viagem internacional na participação da conferência de surdo-cegos, em La Paz, Bolívia, juntamente com uma guia-intérprete carioca. Na primeira semana de junho,desta vez com uma guia-intérprete paulista, representou o Brasil na participação histórica da VIII Conferência Mundial Helen Keller, em Tempere, Finlândia.
Agora, na parte da comissão organizadora, está se preparando para realizar o Primeiro Encontro Estadual de Surdo-cegos no teatro do IBC, nos dias 27 e 28 deste mês, no Rio de Janeiro. Já prepara os discursos da mesa de abertura e de encerramento e algumas palestras, baseado nas suas experiências como primeiro aluno surdo-cego da área de reabilitação deste instituto em 1993.
Também organiza o primeiro Seminário Municipal da Surdo-cegueira, que se realizará no dia 14 de dezembro, na cidade do Rio de Janeiro. Serão debatidos temas primordiais, como educação, inclusão e os vínculos com a área da saúde.
RodrIGues tem como principais formas de comunicação à língua de sinais tátil, o alfabeto datilológico na palma da mão, a escrita com letra.
UNIFENAS-ALUNAS DO CURSO DE EXTENSÃO - CAMPO DO MEIO
LIBRAS TÁTIL
É a Libras realizada na palma de uma das mãos de pessoas surdocegas por meio de um profissional identificado como guia-intérprete, que ao sair acompanhado(a) de uma pessoa surdocega para fazer compras, pagar contas, cumprir compromissos profissionais etc., se utiliza de diversos recursos de comunicação. Além da Libras Tátil, um outro recurso é o método Tadoma.
Definição da Surdocegueira.
Os delegados de 30 países, muitos deles surdo-cegos, reunidos no dia 16 de setembro de 1977, em Nova York, na I Conferência Mundial Helen Keller sobre serviços para os surdos- cegos jovens e adultos, adotaram por unanimidade a seguinte definição de pessoa surdo-cega:
"Indivíduos surdo-cegos devem ser definidos como aqueles que tem uma perda substancial de visão e audição de tal forma que a combinação das duas deficiências cause extrema dificuldade na conquista de metas educacionais, vocacionais, de lazer e sociais."
Considerações a respeito da surdocegueira.
Considerando que a pessoa com uma perda substancial da visão ou da audição pode, todavia, ouvir ou ver, mas a pessoa com uma perda substancial dos dois canais sensoriais, visão e audição, experimenta uma combinação de privação de sentidos que pode causar imensas dificuldades, fica claro que a surdez-cegueira não é uma simples soma das duas deficiências, mas sim uma forma de deficiência com problemas específicos que exigem soluções especiais.
Outro fator a ser considerado é a enorme variedade de pessoas abrangidas por esta ampla definição. Há relativamente poucas pessoas que são totalmente cegas e completamente surdas e, destas, a minoria é surdo-cega congênita. Entretanto, encontraremos nesse universo pessoas cegas que perderam a audição após a aquisição da fala, outras, surdas congênitas, que perderam a visão após aprenderem a língua de sinais e a leitura labial, outras ainda, que perderam a audição e a visão após dominarem a linguagem oral; destas algumas possuem resíduo auditivo ou visual. O conhecimento de todos esses antecedentes, além do estágio da perda, é de fundamental importância para a definição das prioridades do programa que deverá ser criado especificamente para cada indivíduo.
http://www.bengalalegal.com/surdez-ceg.php
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QUE BOM PODER COMUNICAR COM PESSOAS: SURDAS, SURDOCEGAS, PESSOAS.AMEI.
ResponderExcluirEstas informações contribuíram muito para sanar minhas dúvidas em relação a Lingua Brasileira de Sinais. É de grande importância a inclusão das pessoas surdas na educação, mercado de trabalho, etc! Parabéns por sua dedicação Maria Cristina!
ResponderExcluirParabéns! Adorei!
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