Educação Especial
Deficiência Auditiva
Série Atualidades Pedagógicas
Ministério da Educação
Secretaria de Educação Especial
Ministério da Educação e do Desporto
Secretaria de Educação Especial
Educação Especial
Deficiência Auditiva
Série Atualidades Pedagógicas
B823d Brasil, Secretaria de Educação Especial
Deficiência Auditiva / organizado por
Giuseppe Rinaldi et al. - Brasília: SEESP, 1997.
VI. - (série Atualidades Pedagógicas; n. 4)
1.Deficiência Auditiva
I. Rinaldi, Giuseppe. II - Título
CDU 376.353
Série Atualidades Pedagógicas - 4/MEC/SEESP - Brasília: a Secretaria, 1997
Esta Publicação foi realizada dentro do Acordo MEC/UNESCO
Ministério da Educação
Secretaria de Educação Especial
Educação Especial
Deficiência Auditiva
Série Atualidades Pedagógicas
Presidente da República Federativa do Brasil
Fernando Henrique Cardoso
Ministro da Educação e do Desporto
Paulo Renato Souza
Secretário Executivo
Luciano Patrício Oliva
Secretária de Educação Especial
Marilene Ribeiro dos Santos
Apresentação
A Secretaria de Educação Especial do Ministério da Educação e do Desporto, objetivando a divulgação de conhecimentos técnico-científicos mais atualizados acerca das diferentes áreas de deficiência, bem como relativos à superdotação, edita textos e sugestões de práticas pedagógicas referentes à educação dos alunos com necessidades especiais.
A presente série trata da Educação de alunos com Deficiência
Auditiva.
MARILENE RIBEIRO DOS SANTOS
Secretária de Educação Especial
Ministério da Educação e do Desporto
Esplanada dos Ministérios, Bloco L, 6º andar, sala 600
CEP 70047-901 - Brasília - DF
Fone (061) 410-8651 - 226-8672
Fax (061) 321-93985
A Língua Brasileira de Sinais
Apresentação
Este material - “Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS” trata-se de forma resumida, da gramática dessa língua, como forma de subsidiar o seu trabalho pedagógico.
Objetivos
Objetivo Geral:
Oferecer informações básicas sobre a gramática da Língua Brasileira de Sinais -
LIBRAS.
Objetivos Específicos:
O professor deverá ser capaz de :
. conhecer os aspectos mais relevantes de gramática da LIBRAS;
. utilizar os conhecimentos adquiridos para compreender a interferência da LIBRAS
nos textos produzidos pelos alunos surdos;
. estabelecer com o aluno surdo a comparação entre LIBRAS e Português, para
que possa verificar as semelhanças e diferenças;
. utilizar - LIBRAS, sempre que se fizer necessário, para a compreensão dos
conceitos e conteúdos curriculares.
Introdução à Gramática da LIBRAS
TANYA A. FELIPE
Professora Titular da UPE
Coordenadora do grupo de pesquisa da FENEIS
1. O Universal nas Línguas
Pesquisas sobre as línguas de sinais vêm mostrando que estas línguas são comparáveis em complexidade e expressividade a quaisquer línguas orais. Estas línguas expressam idéias sutis, complexas e abstratas. Os seus usuários podem discutir filosofia, literatura ou política, além de esportes, trabalho, moda e utilizá-la com função estética para fazer poesias, estórias, teatro e humor.
Como toda língua, as línguas de sinais aumentam seus vocabulários com novos
sinais introduzidos pelas comunidades surdas em resposta à mudanças culturais e
tecnológicas.
As línguas de sinais não são universal, cada língua de sinais tem sua própria
estrutura gramatical Assim, como as pessoas ouvintes em países diferentes falam
diferentes línguas, também as pessoas surdas por toda parte do mundo, que estão
inseridos em “Culturas Surdas”, possuem suas próprias línguas, existindo portanto
muitas línguas de sinais diferentes, como: Língua de Sinais Francesa, Chilena,
Portuguesa, Americana, Argentina, Venezuelana, Peruana, Portuguesa, Inglesa,
Italiana, Japonesa, Chinesa, Uruguaia, Russa, Urubus-Kaapor, citando apenas
algumas. Estas línguas são diferentes uma das outras e independem das línguas
orais-auditivas utilizadas nesses e em outros países, por exemplo: o Brasil e Portugal
possuem a mesma língua oficial, o português, mas as línguas de sinais destes países
são diferentes, o mesmo acontece com os Estados Unidos e a Inglaterra, entre outros.
Também pode acontecer que uma mesma língua de sinais seja utilizada por dois
países, como é o caso da língua de sinais americana que é usada pelos surdos dos
Estados Unidos e do Canadá.
Embora, surdos de países com línguas de sinais diferentes comunicam-se mais
rapidamente uns com os outros, fato que não ocorre entre falantes de línguas orais,
que necessitam de um tempo bem maior para um entendimento. Isso se deve à
capacidade que as pessoas surdas têm em desenvolver e aproveitar gestos e
pantomimas para a comunicação e estarem atentos as expressões faciais e corporais
das pessoas.
A Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) é a língua de sinais utilizada pelos surdos que
vivem em cidades do Brasil onde existem comunidades surdas, mas além dela, há
registros de uma outra língua de sinais que é utilizada pelos índios Urubus-Kaapor na
Floresta Amazônica.
A LIBRAS, como toda língua de sinais, é uma língua de modalidade gestual-visual
porque utiliza, como canal ou meio de comunicação, movimentos gestuais e
expressões faciais que são percebidos pela visão; portanto, diferencia da Língua
Portuguesa, que é uma língua de modalidade oral-auditiva por utilizar, como canal ou
meio de comunicação, sons articulados que são percebidos pelos ouvidos. Mas as
diferenças não estão somente na utilização de canais diferentes, estão também nas
estruturas gramaticais de cada língua.
Embora com as diferenças peculiares a cada língua, todas as línguas possuem
algumas semelhanças que a identificam como língua e não linguagem como, por
exemplo, a linguagem das abelhas, dos golfinhos, dos macacos, enfim, a
comunicação dos animais.
Uma semelhança entre as línguas é que todas são estruturadas a partir de
unidades mínimas que formam unidades mais complexas, ou seja, todas possuem os
seguintes níveis lingüísticos: o fonológico, o morfológico, o sintático, o semântico e o
pragmático.
No nível fonológico, as línguas são formadas de fonemas. Os fonemas só têm valor
contrastivo, não têm significado mas, a partir das regras de cada língua, se combinam
para formar os morfemas e estes as palavras.
Na língua portuguesa, os fonemas I m I I n I I s I I a I I e I I i I podem se combinar e
formar a palavra I meninas I.
No nível morfológico, esta palavra é formada pelos morfemas {menin-} {-a} {-s}.
Diferentemente dos fonemas, cada um destes morfemas tem um significado: {menin-}
é o radical desta palavra e significa “criança”, o morfema {-a} significa “gênero
feminino” e o morfema {-s} significa “plural”.
No nível sintático, esta palavra pode se combinar com outras para formar a frase,
que precisa ter um sentido em coerência com o significado das palavras em um
contexto, o que corresponde aos níveis semântico (significado) e pragmático (sentido
no contexto: onde está sendo usada) respectivamente.
Outra semelhança entre as línguas é que os usuários de qualquer língua podem
expressar seus pensamentos diferentemente por isso uma pessoa que fala uma
determinada língua a utiliza de acordo com o contexto: o modo de se falar com um
amigo não é igual ao de se falar com uma pessoa estranha. Isso é o que se chama de
registro. Quando se aprende uma língua está aprendendo também a utilizá-la a partir
do contexto.
Outra semelhança também é que todas as línguas possuem diferenças quanto ao seu
uso em relação à região, ao grupo social, à faixa etária e ao sexo. O ensino oficial de
uma língua sempre trabalha com a norma culta, a norma padrão, que é utilizada na
forma escrita e falada e sempre toma alguma região e um grupo social como padrão.
Ao se atribuir às línguas de sinais o status de língua é porque elas, embora sendo
de modalidade diferente, possuem também estas características em relação às
diferenças regionais, sócio-culturais, entre outras, e em relação às suas estruturas
que também são compostas pelos níveis descritos acima.
2. O Sinal e seus Parâmetros
O que é denominado de palavra ou item lexical nas línguas orais-auditivas, são denominados sinais
nas línguas de sinais.
O sinal é formado a partir da combinação do movimento das mãos com um
determinado formato em um determinado lugar, podendo este lugar ser uma parte do
corpo ou um espaço em frente ao corpo. Estas articulações das mãos, que podem ser
comparadas aos fonemas e às vezes aos morfemas, são chamadas de parâmetros,
portanto, nas línguas de sinais podem ser encontrados os seguintes parâmetros:
1. configuração das mãos: são formas das mãos, que podem ser da datilologia
(alfabeto manual) ou outras formas feitas pela mão predominante (mão direita para os
destros), ou pelas duas mãos do emissor ou sinalizador. Os sinais APRENDER,
LARANJA e ADORAR têm a mesma configuração de mão;
2. ponto de articulação: é o lugar onde incide a mão predominante configurada,
podendo esta tocar alguma parte do corpo ou estar em um espaço neutro vertical (do
meio do corpo até à cabeça) e horizontal (à frente do emissor). Os sinais
TRABALHAR, BRINCAR, CONSERTAR são feitos no espaço neutro e os sinais
ESQUECER, APRENDER e PENSAR são feitos na testa;
3. movimento: os sinais podem ter um movimento ou não. Os sinais citados acima
tem movimento, com exceção de PENSAR que, como os sinais AJOELHAR, EM-PÉ,
não tem movimento;
4. orientação: os sinais podem ter uma direção e a inversão desta pode significar
idéia de oposição, contrário ou concordância número-pessoal, como os sinais
QUERER E QUERER-NÃO; IR e VIR;
5. Expressão facial e/ou corporal: muitos sinais, além dos quatro parâmetros
mencionados acima, em sua configuração tem como traço diferenciador também a
expressão facial e/ou corporal, como os sinais ALEGRE e TRISTE. Há sinais feitos
somente com a bochecha como LADRÃO, ATO-SEXUAL.
Na combinação destes quatro parâmetros, ou cinco, tem-se o sinal. Falar com as
mãos é, portanto, combinar estes elementos que formam as palavras e estas formam
as frases em um contexto.
Para conversar, em qualquer língua, não basta conhecer as palavras, é preciso
aprender as regras de combinação destas palavras em frases.
3. Sistema de Transcrição para a LIBRAS
As línguas de sinais tem características próprias e por isso vem sendo utilizado mais o vídeo para sua reprodução à distância. Existem sistemas de convenções para escrevê-las, mas como geralmente eles exigem um período de estudo para serem aprendidos, neste livro, estamos utilizando um "Sistema de notação em palavras".
Este sistema, que vem sendo adotado por pesquisadores de línguas de sinais em
outros países e aqui no Brasil, tem este nome porque as palavras de uma língua oralauditiva são utilizadas para representar aproximadamente os sinais.
Assim, a LIBRAS será representada a partir das seguintes convenções:
1. Os sinais da LIBRAS, para efeito de simplificação, serão representados por itens
lexicais da Língua Portuguesa (LP) em letras maiúsculas. Exemplos: CASA,
ESTUDAR, CRIANÇA, etc;
2. um sinal, que é traduzido por duas ou mais palavras em língua portuguesa, será
representado pelas palavras correspondentes separadas por hífen. Exemplos:
CORTAR-COM-FACA, QUERER-NÃO "não querer", MEIO-DIA, AINDA-NÃO, etc;
3. um sinal composto, formado por dois ou mais sinais, que será representado por
duas ou mais palavras, mas com a idéia de uma única coisa, serão separados pelo
símbolo ^ . Exemplos: CAVALO^LISTRA “zebra”;
4. a datilologia ( alfabeto manual), que é usada para expressar nome de pessoas,
de localidades e outras palavras que não possuem um sinal, está representada pela
palavra separada, letra por letra por hífen. Exemplos:
J-O-Ã-O, A-N-E-S-T-E-S-I-A;
5. o sinal soletrado, ou seja, uma palavra da língua portuguesa que, por empréstimo
, passou a pertencer à LIBRAS por ser expressa pelo alfabeto manual com uma
incorporação de movimento próprio desta língua, está sendo representado pela
datilologia do sinal em itálico. Exemplos: R-S “reais”, A-C-H-O, QUM “quem”, N-U-N-C-A, etc;
6. na LIBRAS não há desinências para gêneros (masculino e feminino) e número
(plural), o sinal, representado por palavra da língua portuguesa que possui estas
marcas, está terminado com o símbolo @ para reforçar a idéia de ausência e não
haver confusão. Exemplos: AMIG@ “amiga(s) e amigo(s)” , FRI@ “fria(s) e frio(s)”,
MUIT@ “muita(s) e muito(s)”, TOD@, “toda(s) e todo(s)”, EL@ “ela(s), ele(s)”, mailto:ME@%20“minha(s) e meu(s)” etc;
7. Os traços não-manuais: expressões facial e corporal, que são feitos simultaneamente com um sinal, estão representados acima do sinal ao qual está acrescentando alguma idéia, que pode ser em relação ao:
a) tipo de frase ou advérbio de modo: interrogativa ou... i ... negativa ou ... neg ... etc
Para simplificação, serão utilizados, para a representação de frases nas formas
exclamativas e interrogativas, os sinais de pontuação utilizados na escrita das línguas
orais-auditivas, ou seja: !, ? e ?!
b) advérbio de modo ou um intensificador: muito rapidamente exp.f "espantado" etc;
interrogativa exclamativo muito
Exemplos: NOME ADMIRAR LONGE
8. os verbos que possuem concordância de gênero (pessoa, coisa, animal), através
de classificadores, estão representados tipo de classificador em subescrito. Exemplos:
pessoaANDAR, veículoANDAR,
coisa-arredondadaCOLOCAR, etc;
9. os verbos que possuem concordância de lugar ou número-pessoal, através do
movimento direcionado, estão representados pela palavra correspondente com uma
letra em subscrito que indicará:
a) a variável para o lugar: i = ponto próximo à 1a pessoa,
j = ponto próximo à 2a pessoa,
e k' = pontos próximos à 3a pessoas,
e = esquerda,
d = direita;
b) as pessoas gramaticais: 1s, 2s, 3s = 1a, 2a e 3a pessoas do singular;
1d, 2d, 3d = 1a, 2a e 3a pessoas do dual;
1p, 2p, 3p = 1a, 2a e 3a pessoas do plural;
Exemplos: 1s DAR2S "eu dou para "você",
2sPERGUNTAR3P "você pergunta para eles/elas",
kdANDARk,e "andar da direita (d) para à esquerda (e).
10. Às vezes há uma marca de plural pela repetição do sinal. Esta marca será
representada por uma cruz no lado direto acima do sinal que está sendo repetido:
Exemplo: GAROTA +
11. quando um sinal, que geralmente é feito somente com uma das mãos, ou dois
sinais estão sendo feitos pelas duas mãos simultaneamente, serão representados um
abaixo do outro com indicação das mãos: direita (md) e esquerda (me).
Exemplos: IGUAL (md) PESSO@-MUIT@ANDAR (me)
` IGUAL (me) PESSOAEM-PÉ (md)
Estas convenções vem sendo utilizadas para poder representar, linearmente, uma
língua espaço-visual, que é tridimensional. Felipe (1988, 1991,1993,1994,1995,1996)
Os Processos de Formação de Palavras na LIBRAS
Os livros sobre as gramáticas das línguas geralmente trazem uma parte sobre os processos de formação de palavras.
Na LIBRAS, os sinais são formados a partir da: configuração de mãos, movimento,
orientação e ponto de articulação, estes parâmetros já foram mencionados na
Introdução deste livro.
Estes quatro parâmetros podem ser comparados a “pedacinhos” de um sinal
porque às vezes eles têm significados e, através de alterações em suas combinações,
eles formam os sinais. Portanto:
a) a configuração de mãos, pode ser um marcador de gênero (animado: pessoa e
animais / inanimado: coisas). Exemplo:
PESSOA CL:Gk CARRO CL5k, k’VEÍCULOCOLIDIRk
“O carro bateu em uma pessoa”;
b) o ponto de articulação pode ser uma marca de concordância verbal com o
advérbio de lugar. Exemplo:
MESAi COPO objeto-arredondado-COLOCARi
“eu coloco o copo na mesa”;
c) o movimento pode ser uma raiz. Exemplos:
IR, VIR, BRINCAR.
A alteração na freqüência do movimento, pode ser uma marca de aspecto temporal:
TRABALHAR-CONTINUAMENTE; de modo: FALAR-DEMASIADAMENTE, ou um intensificador: TRABALHAR-MUITO;
d) a orientação pode ser uma concordância número-pessoal. Exemplos:
1sPERGUNTAR2s “eu pergunto a você”
2sPERGUNTAR1s “você me pergunta”;
ou um advérbio de tempo. Exemplos: ANO e ANO-PASSADO.
Fazendo uma paralelo destes parâmetros que, às vezes, como foi mostrado, podem
ter um significado, com alguns fonemas da língua portuguesa, que podem também ter
um significado, teremos:
(1) os artigos definidos: a e o. Exemplos: a menina, o menino;
(2) , as desinências de gênero e plural. Exemplos: menina, casas.
Na LIBRAS, portanto, os processos de formação de palavras podem ocorrem
através de:
1. Modificações por adição à raiz: uma raiz pode ser modificada através da
adição de afixos. Por exemplo, a incorporação da negação é um processo de
modificação por adição à raiz porque,
• como sufixo, ela se incorpora em alguns verbo: a raiz, que possui um determinado movimento em um primeiro momento, finaliza-se com um movimento contrário, que caracteriza a negação incorporada; como nos verbos: QUERER / QUERER-NÃO; GOSTAR / GOSTAR-NÃO;
• como infixo, ela se incorpora simultaneamente `a raiz através do movimento ou expressão corporal: TER / TER-NÃO; PODER / PODER-NÃO.
A negação, além de poder ocorrer através destes processos morfológicos, pode também ocorrer sintaticamente porque, através dos advérbios ‘NÃO’ E ‘NADA’, pode-se construir uma frase negativa, como no exemplo: EU INGLÊS SABER NÃO, ENTENDER NADA
“eu não sei inglês, não entendo nada”.
Há, ainda, a incorporação do intensificador: “muito” ou de advérbios de modo, que
alteram, também, o movimento da raiz.
2. Modificação interna da raiz: uma raiz pode ser modificada por três tipos de
acréscimo:
a) o da flexão que, através da direcionalidade, marca as pessoas do discurso,
fazendo com que a raiz se inverta ou até adquira uma forma em arco ;
b) o acréscimo do aspecto verbal que, através de mudanças na freqüência do
movimento da raiz marcam os aspectos durativo, contínuo, etc;
c) o acréscimo de um marcador de concordância de gênero que, através de
configurações de mãos (classificadores), especifica a coisa: objeto plano
vertical/horizontal, redondo, etc
3. Processos de derivação Zero: na LIBRAS, como a língua inglesa, há muitos
verbos denominais ou substantivos verbais que são invariáveis e somente no contexto
pode-se perceber se estão sendo utilizados com a função de verbos ou de nome.
Exemplos: AVIÃO / IR-DE-AVIÃO; CADEIRA / SENTAR; FERRO / PASSAR-COMFERRO; PORTA / ABRIR-PORTA; BRINCADEIRA / BRINCAR; TESOURA / CORTAR-COM-TESOURA; BICICLETA / ANDAR-DE-BICICLETA; CARRO / DIRIGIRCARRO; VIDA / VIVER, etc.
Alguns destes pares, quando possuem uma marca de concordância com o objeto,
apresentam uma estrutura OiVi , como o verbo CORTAR-COM-TESOURA; ou
apresentam uma diferença em relação ao parâmetro movimento, como os verbos IRDE-AVIÃO, que apresenta um movimento mais alongado, em relação ao substantivo
AVIÃO, e PASSAR-COM-FERRO, que apresenta um movimento mais repetido e
alongado, em oposição ao movimento repetido e retido para o nome FERRO.
4. Processos de composição: neste processo de formação de palavra duas ou
mais raízes se combinam e dão origem a uma outra forma, um outro sinal. Exemplos:
CAVALO^LISTRA-PELO-CORPO “zebra” ; MULHER^BEIJO-NA-MÃO “mãe”
CASA^ESTUDAR “escola”; CASAR^SEPARAR “divorciar”; COMER^MEIO-DIA
“almoço”; etc.
Pode-se concluir do exposto que, independentemente da modalidade de língua, as
categorias gramaticais e os processos de formação de palavras de uma determinada
língua apontarão para a sua classificação enquanto língua de um determinado tipo, a
partir de seus processos mais produtivos.
5. As Categorias Gramaticais na LIBRAS
As categorias gramaticais ou parte do discurso são os paradigmas ou classes de palavras de uma língua. Todas língua possui palavras que são classificadas como fazendo parte de um tipo, classe ou paradigma em relação as seus aspectos morfológicos, sintáticos, semânticos e pragmáticos. Assim, na língua portuguesa, por exemplo, os substantivos são palavras que possuem desinência de gênero e número, são as palavras-chave de um sintagma nominal que pode ter a função de sujeito ou de objeto.
Embora todas as línguas não possuam as mesmas classes gramaticas e muitas
línguas não possuem algumas, isso não implica carência ou inferioridade, as línguas
tem formas diferenciadas para expressar os conceitos. Por exemplo, na LIBRAS não
há artigos, em inglês somente este uma forma para para artigo definido: “the”.
As outras categorias, que existem na língua portuguesa, também existem na LIBRAS. Aqui serão apresentadas algumas e estudos mais aprofundados destas e de outras, que não serão mencionadas, já estão sendo feitos:
5.1. Verbo na LIBRAS
Basicamente na LIBRAS, há dois tipos de verbo:
a) verbos que não possuem marca de concordância, embora possam ter flexão
para aspecto verbal;
b) verbos que possuem marca de concordância.
Quando se faz uma frase com verbos do primeiro grupo, é como se eles ficassem
no infinitivo, por exemplo:
(1) EU TRABALHAR FENEIS “eu trabalho na FENEIS”;
(2)EL@ TRABALHAR FENEIS “ele/a trabalha na FENEIS”;
(3) EL@ TRABALHAR FENEIS “eles/as trabalham na FENEIS.
Os verbos do segundo grupo podem ser subdivididos em:
1. Verbos que possuem concordância número-pessoal: a orientação marca as
pessoas do discurso. O ponto inicial concorda com o sujeito e o final com o objeto.
Exemplos:
(4) 1sPERGUNTAR2s “eu pergunto a você”;
(5) 2sPERGUNTAR1s “você me pergunta”
2. Verbos que possuem concordância de gênero: são verbos classificadores
porque a eles estão incorporados, através da configuração de mão, uma concordância
de gênero: PESSOA, ANIMAL ou COISA. Exemplos:
(6) pessoaANDAR (configuração da mão em G);
(7) veículoANDAR/MOVER (configuração da mão em 5 ou B, palma para baixo)
(8) animalANDAR (configuração da mão em 5 ou 5, palma para baixo);
3. Verbos que possuem concordância com a localização: são verbos que
começam ou terminam em um determinado lugar que se refere ao lugar de uma
pessoa, coisa, animal ou veículo, que está sendo colocado, carregado, etc. Portanto o
ponto de articulação marca a localização. Exemplos:
(9) COPO MESAk coisa arredondadaCOLOCARk;
(10) CABEÇAk ATIRARk.
Estes tipos de concordância podem coexistir em um mesmo verbo. Assim, há verbos que possuem concordância de gênero e localização, como o verbo COLOCAR
acima; e concordância número-pessoal e de gênero, como o verbo DAR. Concluindo,
pode-se esquematizar o sistema de concordância verbal, na LIBRAS, da seguinte
maneira:
1. concordância número-pessoal => parâmetro orientação
2. concordância de gênero e número => parâmetro configuração de mão
3. concordância de lugar => parâmetro ponto de articulação
5.1.1. Classificador na LIBRAS
Nas línguas do mundo as classificações podem se manifestam de várias formas.
Podem ser:
• uma desinência, como em português, que classifica os substantivos e os adjetivos em
masculino e feminino: menina - menino;
• pode ser uma partícula que se coloca entre as palavras;
• e ainda pode ser uma desinência que se coloca no verbo para estabelecer concordância.
Ao se atribuir uma qualidade a uma coisa como, por exemplo: arredondada, quadrado, cheio de bolas, de listras, etc isso representa um tipo de classificação porque é uma adjetivação descritiva, mas isso não quer dizer que seja, necessariamente, um classificador como se vem trabalhando este conceito nos estudos lingüísticos.
Para os estudiosos deste assunto, um classificador é uma forma que existe em
número restrito em uma língua e estabelece um tipo de concordância.
Na LIBRAS, os classificadores são configurações de mãos que, relacionadas à
coisa, pessoa e animal, funcionam como marcadores de concordância.
Assim, na LIBRAS, os classificadores são formas que, substituindo o nome que as
precedem, pode vir junto ao verbo para classificar o sujeito ou o objeto que está ligado
à ação do verbo. Portanto os classificadores na LIBRAS são marcadores de concordância de gênero: PESSOA, ANIMAL, COISA.
Os classificadores para PESSOA e ANIMAL podem ter plural, que é marcado ao se
representar duas pessoas ou animais simultaneamente com as duas mãos ou fazendo
um movimento repetido em relação ao número.
Os classificadores para COISA representam, através da concordância, uma
característica desta coisa que está sendo o objeto da ação verbal, exemplos:
(11) COPO MESAk coisa arredondadaCOLOCARk;
(12) 2 CARRO veículoANDAR-UM-ATRÁS-DO-OUTRO (md) veículoANDAR (me)
(13) M-A-R-I-A A-L-E-X pessoaPASSAR-UM-PELO-OUTRO (md) pessoaPASSAR (me)
Não se deve confundir os classificadores, que são algumas configurações de mãos
incorporadas ao movimento de certos tipos de verbos, com os adjetivos descritivos
que, nas línguas de sinais, por estas serem espaço-visuais, representam iconicamente qualidades de objetos. Por exemplo, para dizer nestas línguas que “uma pessoa está vestindo uma blusa de bolinhas, quadriculada ou listrada”, estas expressões adjetivas serão desenhadas no peito do emissor, mas esta descrição não é um classificador, e sim um adjetivo que, embora classifique, estabelece apenas uma relação de qualidade do objeto e não relação de concordância de gênero: PESSOA,
ANIMAL, COISA, que é a característica dos classificadores na LIBRAS, como também em outras línguas orais e de sinais.
5.1.2. Advérbios de tempo
Na LIBRAS não há marca de tempo nas formas verbais, é como se os verbos
ficassem na frase quase sempre no infinitivo. O tempo é marcado sintaticamente
através de advérbios de tempo que indicam se a ação está ocorrendo no presente:
HOJE, AGORA; ocorreu no passado: ONTEM, ANTEONTEM; ou irá ocorrer no futuro:
AMANHÃ. Por isso os advérbios geralmente vem no começo da frase, mas podem ser
usados também no final. Para um tempo verbal indefinido, usa-se os sinais:
• HOJE, que traz a idéia de “presente”;
• PASSADO, que traz a idéia de “passado”;
• FUTURO, que traz a idéia de futuro.
5.2. Adjetivo na LIBRAS
Os adjetivos são sinais que formam uma classe específica na LIBRAS e sempre
estão na forma neutra, não havendo, portanto, nem marca para gênero (masculino e
feminino), em para número (singular e plural).
Muitos adjetivos, por serem descritivos e classificadores, apresentam iconicamente
uma qualidade do objeto, desenhando-a no ar ou mostrando-a a partir do objeto ou do
corpo do emissor.
Em português, quando uma pessoa se refere a um objeto como sendo
arredondado, quadrado, listrados, etc está, também, descrevendo e classificando,
mas na LIBRAS esse processo é mais “transparente” porque o formato ou textura são
traçados no espaço ou no corpo do emissor, em uma tridimensionalidade permitida
pela modalidade da língua.
Em relação à colocação dos adjetivos na frase, eles geralmente vêm após o
substantivo que qualifica. Exemplos:
(14) PASSADO EU GORD@ MUITO-COMER, AGORA EU MAGR@ EVITAR
COMER
(15) LEÃ@ COR CORPO AMAREL@ PERIGOS@
(16) RAT@ PEQUEN@, COR PRET@, ESPERT@
5.2.1. Comparativo de igualdade, superioridade e inferioridade
Em LIBRAS, também, pode ser comparada uma qualidade a partir de três
situações: superioridade, inferioridade e igualdade.
Para se fazer os comparativos de superioridade e inferioridade, usa-se os sinais
MAIS ou MENOS antes do adjetivo comparado, seguido da conjunção comparativa
DO-QUE, ou seja:
• comparativo de superioridade: X MAIS ------- DO-QUE Y;
• comparativo de inferioridade: X MENOS ---- DO-QUE Y.
Para o comparativo de igualdade, podem ser usados dois sinais: IGUAL (dedos indicadores e médios das duas mãos roçando um no outro) e IGUAL (duas mãos em B, viradas para frente encostadas lado a lado), geralmente no final da frase. Exemplos:
(17) VOCÊ MAIS VELH@ DO-QUE EL@
(18) VOCÊ MENOS VELH@ DO-QUE EL@
(19) VOCÊ-2 BONIT@ IGUAL (me)
IGUAL (md)
5.3. Pronome na LIBRAS
5.3.1. Pronomes pessoais
A LIBRAS possui um sistema pronominal para representar as pessoas do discurso:
• primeira pessoa (singular, dual, trial, quatrial e plural): EU; NÓS-2, NóS-3, NÓS-4, NÓSGRUPO,
NÓS-TOD@;
• segunda pessoa (singular, dual, trial, quatrial e plural): VOCÊ, VOCÊ-2, VOCÊ-3, VOCÊ-4,
VOCÊ-GRUPO, VOCÊ-TOD@;
• terceira pessoa (singular, dual, trial, quatrial e plural): EL@, EL@-2, EL@-3, EL@-4, mailto:EL@-%20GRUPO, EL@-TOD@
No singular, o sinal para todas as pessoas é o mesmo, ou seja, a configuração da mão predominante é em “d” ( dedo indicador estendido, veja alfabeto manual), o que difere uma das outras é a orientação da mão: o sinal para “eu” é um apontar para o peito do emissor (a pessoa que está falando), o sinal para “você” é um apontar para o receptor (a pessoa com quem se fala) e o sinal para “ele/ela” é um apontar para uma pessoa que não está na conversa ou para um lugar convencionado para uma terceira pessoa que está sendo mencionada.
No dual, a mão ficará com o formato de dois, no trial o formato será de três, no
quatrial o formato será de quatro e no plural há dois sinais: um sinal composto
formado pelo sinal para a respectiva pessoa do discurso, no singular, mais o sinal
GRUPO; e outro sinal para plural que é feito pela mão predominante com a
configuração em “d” fazendo um círculo.
Como na língua portuguesa, na LIBRAS, quando uma pessoa surda está
conversando, ela pode omitir a primeira pessoa e a segunda porque, pelo contexto, as
pessoas que estão interagindo sabem a qual das duas o verbo está relacionado, por
isso, quando estas pessoas estão sendo utilizadas pode ser para dar ênfase à frase.
Quando se quer falar sobre uma terceira pessoa que está presente, mas deseja-se
uma certa reserva, por educação, não se aponta para esta pessoa diretamente. Nesta
situação, o emissor faz um sinal com os olhos e um leve movimento de cabeça para a
direção da pessoa que está sendo mencionada, ou aponta para a palma da mão
encontrando o dedo na mão um pouco à frente do peito do emissor, estando esta mão
voltada para a direção onde se encontra a pessoa referida.
5.3.2. Pronomes demonstrativos e advérbios de lugar
Na LIBRAS os pronomes demonstrativos e os advérbios de lugar têm o mesmo
sinal, somente o contexto os diferencia pelo sentido da frase acompanhada de
expressão facial.
Este tipo de pronome e de advérbio estão relacionados às pessoas do discurso e
representam, na perspectiva do emissor, o que está bem próximo, perto e distante.
Estes pronomes ou advérbios têm a mesma configuração de mãos dos pronomes
pessoais (mão em d), mas os pontos de articulação e as orientações do olhar são
diferentes.
Assim, EST@ / AQUI é um apontar para o lugar perto e em frente do emissor,
acompanhado de um olhar para este ponto; ESS@ / AÍ é um apontar para o lugar
perto e em frente do receptor, acrescido de um olhar direcionado não para o receptor ,
mas para o ponto apontado perto segunda pessoa do discurso; e AQUELE / LÁ é um
apontar para um lugar mais distante, o lugar da terceira pessoa, mas diferentemente
do pronome pessoal, ao apontar para este ponto há um olhar direcionado:
PRONOMES PESSOAIS PRONOMES DEMONOSTRATIVOS E ADVÉRBIOS DE LUGAR
EU olhando para o receptor EST@ / AQUI olhando para o lugar apontado, perto do emissor (perspectiva do emissor)
VOCÊ olhando para o recptor ESS@ / AÍ olhando para o lugar apontado, perto da 2a. pessoa (perspectiva do emissor)
EL@ olhando para o receptor AQUEL@ / LÁ olhando para o lugar convencionado para 3a pessoa ou coisas afastadas
Como os pronomes pessoais, os pronomes demonstrativos também não possuem
marca para gêneros masculino e feminino e, por isso, esta ausência, ou neutralidade,
está sendo assinalada pelo símbolo @.
5.3.3. Pronomes possessivos
Os pronomes possessivos, como os pessoais e demonstrativos, também não
possuem marca para gênero e estão relacionados às pessoas do discurso e não à
coisa possuída, como acontece em português:
• EU => ME@ SOBRINH@;
• VOCÊ => TE@ ESPOS@;
• EL@ => SE@.FILH@
Para a primeira pessoa: ME@, pode haver duas configurações de mão: uma é a mão aberta com os dedos juntos, que bate levemente no peito do emissor; a outra é a configuração da mão em P com o dedo médio batendo no peito.
Para as segunda e terceira pessoas, a mão tem esta segunda configuração em P,
mas o movimento é em direção à pessoa referida: segunda ou terceira.
Não há sinal específico para os pronomes possessivo no dual, trial, quadrial e plural
(grupo), nestas situações são usados os pronomes pessoais correspondentes.
Exemplo: NÓS FILH@ “nosso(a) filho(a)”
5.3.4. Pronomes Interrogativos
5.3.4.1. QUE, QUEM, ONDE
Os pronomes interrogativos QUE e QUEM geralmente são usados no início da
frase, mas o pronome interrogativo ONDE e o pronome QUEM, quando está sendo
usado com o sentido de “quem-é” ou “de quem é” são mais usados no final. Todos os
três sinais têm uma expressão facial interrogativa feita simultaneamente com eles.
O pronome interrogativo QUEM, dependendo do contexto, tem duas formas
diferentes, os sinais QUEM e o sinal soletrado QUM. Se se quer perguntar “quem está
tocando a campainha”, usa-se o sinal QUEM; se quer perguntar “quem faltou hoje” ou
“quem está falando” ou ainda “quem fez isso”, usa-se o sinal soletrado QUM, como
nos exemplos abaixo:
interrog.
(20) QUEM
QUEM NASCER RIO?
QUEM FAZER ISSO?
PESSOA, QUEM-É? “Quem é esta pessoa?”
CANETA, QUEM-É “De quem é está caneta”
(contexto: Telefone TDD tocar) QUEM-É?
(contexto: Campainha tocar) QUEM-É
interrog.
QUM
QUM TER LIVR@?
QUM FALAR?
5.3.4.2. QUAL, COMO, PARA-QUE e POR-QUE
Na LIBRAS, há uma tendência para a utilização, no final da frase, dos pronomes
interrogativos QUAL, COMO e PARA-QUE, e para a utilização, no início da frase, do
pronome interrogativo POR-QUE, mas os primeiros podem ser usados também no
início e POR-QUE pode ser utilizado também no final.
Não há diferença entre o “por que” interrogativo e o “porque” explicativo, o contexto
mostra, pelas expressões facial e corporal, quando ele está sendo usado em frase
interrogativa ou em frase explicativa à pergunta.O pronome interrogativo COMO
também tem outra forma em datilologia:
C-O-M-O. Exemplos:
• QUAL?
(22) BLUSA MAIS BONIT@. ESTAMPAD@ OU LIS@ QUAL?
MAIS BONIT@ ESTAMPAD@.
(23) VOCÊ LER LIVRO? QUAL NOME?
NOME “ VENDO VOZES”
• COMO?
(24) VOCÊ IR PRAIA AMANHÃ CARRO ÔNIBUS A-PÉ? COMO?
CARRO. VOCÊ QUER IR-JUNTO?
(25) EL@ COMPRAR CARRO? C-O-M-O TER DINHEIRO?
EL@ GANHAR LOTO
• PARA-QUE?
(26) FALAR M-L EL@ PRA-QUE?
PORQUE EU GOSTAR-NÃO EL@
(27) CHEGAR ATRASAD@ , VOCÊ BEBER?
NÃO, PENSAR M-L! PRA-QUE? BOBAGEM! exp.facial “parece que ele percebeu, me dei mal!!
• POR-QUE?
...interrog...
(28) POR-QUE FALTAR ONTEM TRABALHAR?
POR-QUE ESTAR DOENTE.
5.3.4.3. QUANDO, DIA, QUE-HORA, QUANTAS-HORAS
• QUANDO e DIA
Sempre simultaneamente aos pronomes ou expressões interrogativas há uma expressão facial indicando que a frase está na forma interrogativa.
A pergunta com QUANDO está relacionada a um advérbio de tempo na resposta ou
a um dia específico. Por isso há três sinais diferentes para “quando”. Um que
especifica passado: QUANDO-PASSADO ( palma da mão com um movimento para o
corpo do emissor), outro que especifica futuro: QUANDO-FUTURO (palma da mão
com um movimento para fora do corpo do emissor), e outro que especifica o dia: DIA.
Exemplos:
interrogativo
(29) QUANDO-PASSADO
interrogativo
• EL@ VIAJAR RECIFE QUANDO-PASSADO?
Resposta: ONTEM, MÊS PASSADO, ANO-PASSADO, etc.
interrogativo interrogativo
(30) QUANDO-FUTURO ou DIA
interrogativo
• EL@ VIAJAR SÃO-PAULO QUANDO-FUTURO?
Resposta: AMANHÃ, PRÓXIMO MÊS, DOMINGO, etc;
interrogativo
(31) DIA
interrogativo
• EU CONVIDAR VOCÊ VIR MINH@ CASA. VOCÊ PODER DIA?
Resposta: SÁBADO QUE-VEM, EU PODER.
• Que-horas e Quantas-horas
Na LIBRAS, para se referir a horas, usa-se a mesma configuração dos numerais para quantidade e, após doze horas, não se continua a contagem, começa-se a contar novamente: 1 HORA, 2 HORA, 3
HORA, etc, acrescentando o sinal TARDE, quando necessário, porque geralmente pelo contexto já se sabe se está se referindo à manhã, tarde, noite ou madrugada.
A expressão interrogativa QUE-HORAS? (um apontar para o pulso), está relacionada
ao tempo cronológico, exemplo:
(32) QUE-HORAS
• AULA COMEÇAR QUE-HORAS AQUI?
• VOCÊ TRABALHAR COMEÇAR QUE-HORAS?
• AULA TERMINAR QUE-HORAS?
• VOCÊ ACORDAR QUE-HORAS?
• VOCÊ DORMIR QUE-HORAS?
Já a expressão interrogativa QUANTAS-HORAS ( um círculo ao redor do rosto) está sempre relacionada ao tempo gasto para se realizar alguma atividade, exemplos:
interrogativo
(33) QUANTAS-HORAS
• VIAJAR SÃO-PAULO QUANTAS-HORAS?
• TRABALHAR ESCOLA QUANTAS-HORAS?
• Expressões idiomáticas relacionadas ao ano sideral
Na LIBRAS há 2 sinais diferentes para a idéia “dia”: um sinal relacionado a dia do
mês, que é a datilologia D-I-A, e o sinal DIA (duração), (que tem a configuração de
mão em d, batendo na testa no lado direito) Exemplos:
(34) D-I-A AMANHÃ?
AMANHÃ D-I-A 17
(35) VIAJAR RECIFE ÔNIBUS EU CANSAD@ DIA-2
“Eu estou cansada porque viajei 2 dias de ônibus para o Recife”
Os numerais de 1 a 4 podem ser incorporados aos sinais DIA (duração), SEMA-NA,
MÊS e ANO e VEZ, exemplos:
(36) DIA-1, DIAS-2;
(37) SEMANA-1, SEMANA-2, SEMANA-3, SEMANA-4;
(38) MÊS-1, MÊS-2, MÊS-3;
(39) ANO-1, AN0-2, ANO-3;
(40) VEZ-1, VEZ-2, VEZ-3, MUIT@-VEZES
A partir do numeral 5, não há mais incorporação e a construção utilizada é formada
pelo sinal seguido do numeral segue. Esta construção também pode ser usada para
os numerais inferiores a 5, que permitem a incorporação mencionada acima,
exemplos:
(41) DIA 4, DIA 20, SEMANA 8, ANO 6
Aos sinais DIA (duração) e SEMANA podem ser incorporadas a freqüência ou
duração através de um movimento prolongado ou repetido. Exemplos:
(42) TODOS-OS-DIAS - movimento repetido;
(43) DIA-INTEIRO “o dia todo” - movimento alongado;
(44) TOD@-SEMANA 2ª-FEIRA “ todas as segundas” - mov. alongado,
TOD@-SEMANA 4 a-FEIRA “todas as quartas”
5.4. Numeral na LIBRAS
As línguas podem ter formas diferentes para apresentar os numerais quando
utilizados como cardinais, ordinais, quantidade, medida, idade, dias da semana ou
mês, horas e valores monetários. Isso também acontece na LIBRAS.
Nesta língua é agramatical, ou seja, errado a utilização de uma única configuração
das mãos para determinados numerais que têm configurações específicas que
dependem do contexto, por exemplo: o numeral cardinal 1 é diferente da quantidade
1, como em LIVRO 1, que é diferente de PRIMEIRO-LUGAR, que é diferente de
PRIMEIRO-ANDAR, que é diferente de PRIMEIRO-GRAU, que é diferente de MÊS-1.
Os numerais cardinais, as quantidades, e idade a partir do número 11 são idênticos.
Os números 22, 33, 44 e 77 sempre são articulados com a mão apontando para a
frente do emissor.
Os numerais ordinais do PRIMEIRO até o NONO têm a mesma forma dos
cardinais, mas aqueles possuem movimentos enquanto estes não possuem. Os
ordinais do PRIMEIRO até o QUARTO têm movimentos para cima e para baixo e os
ordinais do QUINTO até o NONO têm movimentos para os lados. A partir do numeral
DEZ, não há mais diferença entre os cardinais e ordinais.
5.4.1. Utilização dos numerais para valores monetários, pesos e medidas
Em LIBRAS para se representar os valores monetários de um até nove reais, usase
o sinal do numeral correspondente ao valor, incorporando a este o sinal VÍRGULA.
Por isso o numeral para valor monetário terá pequenos movimentos rotativos. Pode
ser usado também para estes valores acima os sinais dos numerais correspondentes
seguido do sinais soletrados R-L “real” ou R-S “reais”.
Para valores de um mil até nove mil também há a incorporação do sinal VÍRGULA,
mas aqui o movimento desta incorporação é mais alongando do que os valores
anteriores (de 1 até nove reais). Pode ser usado também para estes valores acima os
sinais dos numerais corres-pondente seguido de PONTO.
Para valores de um milhão para cima, usa-se também a incorporação do sinal
VÍRGULA com o numeral correspondente, mas aqui o movimento rotativo é mais
alongado do que em mil. Pode-se notar uma gradação tanto na expressão facial como
neste movimento da vírgula incorporada que ficam maiores e mais acentuados : de 1
a 9 < de 1.000 a 9.000 < de 1.000.000 a 9.000.000.
Quando o valor é centavo, o sinal VÍRGULA vem depois do sinal ZERO, mas na
maioria das vezes não precisa usar o sinal ZERO para centavo porque o contexto
pode esclarecer e os valores para centavos ficam iguais aos numerais cardinais.
6. Tipos de Frases na LIBRAS
As línguas de sinais utilizam as expressões faciais e corporais para estabelecer tipos de frases, como as entonações na língua portuguesa, por isso para perceber se uma frase em LIBRAS está na forma afirmativa, exclamativa, interrogativa, negativa ou imperativa, precisa-se estar atento às expressões facial e corporal que são feitas simultaneamente com certos sinais ou com toda a frase,
exemplos:
• FORMA AFIRMATIVA: a expressão facial é neutra
(45) Meu nome M-A-R-I-A.
• FORMA INTERROGATIVA: sobrancelhas franzidas e um ligeiro movimento da cabeça inclinando-se para cima
interrog
(46) NOME QUAL? (expressão facial interrogativa feita simultaneamente ao sinal QUAL)
interrog
(47) NOME? (expressão facial feita simultaneamente com o sinal NOME)
• FORMA EXCLAMATIVA: sobrancelhas levantadas e um ligeiro movimento da cabeça inclinando-se para cima e para baixo. Pode ainda vir também com um intensificador representado pela boca fechada com um movimento para baixo.
(48) EU VIAJAR RECIFE, BOM! BONIT@ LÁ! CONHECER MUIT@ SURD@
• FORMA NEGATIVA: a negação pode ser feita através de três processos:
a) com o acréscimo do sinal NÃO `a frase afirmativa:
negação
(49) BLUSA FEI@ COMPRAR NÃO;
b) com a incorporação de um movimento contrário ao do sinal negado:
negação
(50) GOSTAR-NÃO CARNE, PREFERIR FRANGO, PEIXE;
negação
(51) EU TER-NÃO TTD;
c)com um aceno de cabeça que pode ser feito simultaneamente com a ação que
está sendo negada ou juntamente com os processos acima:
não
(52) EU VIAJAR PODER
À guisa de conclusão
Compreender a gramática de uma língua é apreender as regras de formação e de
combinação dos elementos desta língua. Nesta introdução, a LIBRAS pôde ser
percebida a partir de algumas classes gramaticais. Os estudos, já em andamento,
aprofundando nos pontos aqui apresentados e em outros não mencionados, poderão
mostrar a gramática desta língua.
Apêndice
SISTEMA DE TRANSCRIÇÃO SIMPLIFICADO
FIGURA - VERBOS COM INCORPORAÇÃO DE NEGAÇÃO
FIGURA - VERBOS COM CONCORDÂNCIA NÚMERO/PESSOAL
SISTEMA DE TRANSCRIÇÃO SIMPLIFICADO
1. Sinais da LIBRAS: em letras maiúsculas em língua portuguesa.
Exemplos: CASA, ESTUDAR, CRIANÇA.
2. Sinal único: duas ou mais palavras da língua portuguesa separadas por hífen.
Exemplos: CORTAR-COM-FACA, NÃO-QUERER "não querer", COMER-MAÇÃ,
MEIO-DIA, AINDA-NÃO.
3. Sinal composto: duas ou mais palavras separadas pelo símbolo ^. Exemplos:
CAVA-LO^LISTRA “zebra”.
4. Datilologia (alfabeto manual): palavra separada, letra por letra, por hífen.
Exemplos: J-O-Ã-O, A-N-E-S-T-E-S-I-A.
5. Sinal soletrado: datilologia da palavra, ou algumas letras dela, em itálico.
Exemplos: R-S “reais”, A-C-H-O “acho”, QUM “quem”, N-U-N-C-A.
6. Ausência de marca para gêneros (masculino e feminino) e número (plural):
símbolo @.
Exemplos: AMIG@ “amiga(s) e amigo(s)” , FRI@ “fria(s) e frio(s)”, MUIT@ “muita(s)
e muito(s)”, TOD@, (toda(s) e todo(s), EL@ “ela(s), ele(s), ME@ “minha(s) e
meu(s)”.
7. Expressões facial e corporal: especificação sobreposta ao sinal.
a) tipo de frase: !, ?, ?! ou interrogativa ou ... i ... negativa ou ... neg ...
b) advérbio de modo ou intensificador: muito rapidamente exp.f "espantado"
8. Concordância de gênero (pessoa, coisa, animal): Exemplos:
pesssoaANDAR, veículoANDAR, coisa-arredondadaCOLOCAR
9. Concordância de lugar e/ou número pessoal:
a) variáveis que indicam o lugar: i = ponto próximo à 1a pessoa
j = ponto próximo à 2a pessoa
k e k' = pontos próximos à 3a pessoas
e = esquerda
d = direita
b) pessoas gramaticais: 1s, 2s, 3s = 1a, 2a e 3a pessoas do singular;
1d, 2d, 3d = 1a, 2a e 3a pessoas do dual;
1p, 2p, 3p = 1a, 2a e 3a pessoas do plural; etc
Exemplos: 1s DAR2s "eu dou para você",
2sPERGUNTAR3P "você pergunta para eles/elas",
kdANDARk'e "andar da direita para à esquerda”
10. Marca de plural pela repetição do sinal: uma cruz no lado direto acima do sinal:
Exemplo: GAROTA +
11. Sinal ou sinais feitos pelas duas mãos simultaneamente: um abaixo do outro
com indi-cação das mãos: direita (md) e esquerda (me).
Exemplos: IGUAL (me) muitas-pessoasANDAR (me)
IGUAL (md) pessoaANDAR (md)
12. Tradução da frase da LIBRAS para a língua portuguesa: uso de “ ”
Exemplo: 1s DAR2S "eu dou para você"
FIGURA - VERBOS COM INCORPORAÇÃO DE NEGAÇÃO
TER NÃO - TER
QUERER-NÃO - QUERER
GOSTAR - GOSTAR -NÃO
ENTENDER
NÃO - ENTENDER
NÃO - ENTENDER
VRJ
NÃO - ENTENDER
PODER
VSP
NÃO - PODER
VSP / VRP
NÃO - PODER
FIGURA - VERBOS COM CONCORDÂNCIA
NÚMERO/PESSOAL
1s FALAR g 2s FALAR 1s
1s TELEFONAR 2s 2s TELEFONAR 1s
1s MOSTRAR 2s 2s MOSTRAR 1s
1s AJUDAR 2s 2s AJUDAR 1s
1s PERGUNTAR 2s 2s PERGUNTAR 1s
1s RESPONDER 2s 2s RESPONDER 1s
1s AVISAR 2s 2s AVISAR 1s
1s DAR 2s 2s DAR 1s
Sugestões para sua Atuação
• Solicite cursos de Língua Brasileira de Sinais.
• Utilize os conhecimentos adquiridos para compreender 01 textos produzidos pelo alunos
surdos.
• Mostre aos alunos a diferença entre LIBRAS e Português, ao corrigir seus textos.
• Estabeleça contato com a comunidade surda de sua localidade para maior conhecimento de LIBRAS.
• Solicite um instrutor surdo para sua escola a fim de cooperar com seu fazer pedagógico.
Bibliografia Consultada
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BERENEZ, N. & FERREIRA BRITO, L. Pronouns in BCSL and ASL. Sign Language
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CALDAS, Beatriz F. Narrativas em LSCB: um estudo sobre referência. Dissertação de
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FARIAS, Carla Valéria e Souza. Atos de Fala: O pedido em língua brasileira de sinais.
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FELIPE, T. A. Introdução À Gramática de LIBRAS - Rio de Janeiro: 1997.
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A relação sintático-semântica do Verbos da LSCB” nos Anais do VII Encontro
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